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Inovações nas Licenciaturas

Estágio Supervisionado: a reflexão contextual como princípio formativo da docência

Ana Carla Ramalho Evangelista Lima, Cenilza Pereira dos Santos

A experiência apresentada caracteriza-se como uma prática que evidencia uma mudança na forma de pensar e agir dos estudantes e dos docentes denominados como regentes das classes dos Anos Iniciais da Educação Básica, no que se refere à concepção de Estágio Supervisionado no curso de Licenciatura em Pedagogia. A concepção de estágio como pesquisa (PIMENTA e LIMA, 2004) está presente no projeto pedagógico do curso e norteia a proposta curricular de formação de professores/as, que compreende o campo de estágio como espaço de problematização, de investigação e reflexão do trabalho pedagógico, com vistas à produção de conhecimento, por meio do qual os estudantes poderão analisar e reagir aos desafios e embates da futura profissão.


O estágio supervisionado no curso de Pedagogia da UEFS comporta uma carga horária total de 405h, organizando-se em diferentes etapas em que o estudante transita entre universidade e escola com diferentes objetivos. Para este trabalho, fizemos um recorte das 135h, que correspondem às atividades em campo de estágio, ou seja, em sala de aula com o professor regente. Durante esse período em que os estudantes permanecem na escola-campo há um conjunto de proposições que são apresentadas e discutidas com as escolas e com os estudantes-estagiários. Todos os encaminhamentos são construídos em parceria com as escolas-campo, no sentido de escutá-las, acolher as suas sugestões e adaptar a proposta a cada realidade. 


Esse processo permite uma interlocução escola – universidade que amplia a formação e a concepção de estágio como um processo de cuidado com o estagiário, em que, tanto a escola que o acolhe, quanto a universidade, se tornam responsáveis pela sua formação. Esse é um momento ímpar em que os professores experientes assumem a construção dos saberes profissionais (TARDIF, 2002) desses aprendizes. Constitui-se num momento de trocas e construções profissionais carregado de significado para ambos. O nosso objetivo é justamente fazer com que os professores regentes sintam-se partícipes do processo de formação desses estagiários, uma vez que reconhecemos, que é a escola é espaço de construção de saberes e de teorias ressignificadas (GATTI, 2013-2014). 


Nesta dialogicidade a teoria e a prática se tornam concretas. Ao adentrar o campo de estágio, em um momento inicial, os estudantes são convidados a escrever uma narrativa intitulada “primeiras impressões” e compartilhá-la em nosso grupo na universidade. Essas primeiras impressões serão retomadas mais adiante na produção de um relato de experiência que é o produto final da vivência de estágio. Na sequência da sua inserção nestes espaços, são orientados a “descrever o contexto”, ou seja, reconhecer a realidade na qual estão inseridos, situando a escola no seu contexto, o tempo de atividade da instituição escolar, os documentos que norteiam a proposta pedagógica, o perfil dos alunos e professor/es. 


A principal finalidade desta etapa é fornecer um “pano de fundo” para os acontecimentos a serem registrados pelos estudantes para que compreendam que cada contexto é diferente por isso as práticas não podem ser lineares e pensadas da mesma forma. Ao socializar esse primeiro momento, isso fica muito claro para as estudantes: o local em que a escola está inserida, os sujeitos que fazem parte da instituição, a comunidade as necessidades sociais, têm relação direta com a atividade pedagógica. Ao fazerem essa caracterização, os estudantes são provocados a refletir sobre os aspectos que começam a chamar a sua atenção nesse contexto. Esta etapa lhes ajudará na escolha do seu eixo de observação e registro durante os próximos dias. 


A ideia de “eixo” parte da compreensão de que a “observação da realidade e algumas pesquisas sobre o ensino e a aprendizagem vêm indicando, que há um conjunto de variáveis que interferem nos resultados (positivos ou negativos) do trabalho pedagógico” (SOLIGO, 2015), assim, os estudantes precisarão focar e aprofundar o seu olhar observador para construir registros que promovam reflexões sobre o contexto vivenciado. A dinâmica de uma sala de aula envolve diferentes situações que podem ser considerados imprevistos ou obstáculos críticos que, de alguma forma, exigem do professor uma tomada de ação e encaminhamento efetivo. 


Considerando que a esta altura os estudantes já estarão envolvidos na dinâmica da sala - entre as discussões nas aulas da universidade e a vivência da escola - ajudamos aos estudantes a construção do eixo central de observação e registros da vivência com a construção de uma justificativa e definição dos objetivos. A partir dessas definições, as situações registradas na vivência com a classe e deverão estar em articulação com a justificativa e os objetivos do eixo, de modo a alimentar os dados que serão refletidos e discutidos a partir de um referencial teórico que os auxiliem a compreender a gestão de uma sala de aula, as estratégias possíveis para superar esses obstáculos e imprevistos, as suas descobertas e percepções, assim como a avaliação do seu percurso de problematização e reflexão da realidade. 


Com o término do período em campo os estudantes compartilham os eixos durante os encontros na universidade e vamos construindo um repertório teórico para que possam tecer análises sobre os dados registrados. Toda essa construção culmina com a produção de um relato de experiência que é compartilhado com escolas-campo e comunidade acadêmica em um evento denominado Seminário de Pesquisa e Estágio, que versa sobre uma temática que emerge da ênfase dos eixos a cada semestre. Nesse evento, participam os demais estudantes do curso e representantes das escolas-campo. Este se constitui num momento de partilha e construção de conhecimento, em que escola e universidade discutem a docência e sua construção de forma reflexiva baseada num contexto real, em que os professores regentes são reconhecidos como protagonistas de uma prática complexa e repleta de significados. Acreditamos, dessa forma, que a construção do conhecimento docente deve está pautada na pesquisa e na reflexão, mas também na partilha e na colaboração com os sujeitos reais da escola.


Referências

  • GATTI, Bernardete A. A formação inicial de professores para a educação básica: as licenciaturas. REVISTA USP, São Paulo: USP; n. 100, dezembro/janeiro/fevereiro, 2013-2014. 

  • PIMENTA, Selma G.; LIMA, Maria Socorro L. Estágio e docência. São Paulo: Cortez, 2004. 

  • SOLIGO, Rosaura. Cartas pedagógicas sobre a docência / Rosaura Soligo. – São Paulo: GFK, 2015.

  • TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.

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