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Inovações nas Licenciaturas

Observatórios Formativos: uma proposta curricular e metodológica centrada no cotidiano da docência

Nadja Maria Lima Maciel

Este trabalho tem como objetivo partilhar uma experiência vivida no contexto da formação de professores em atuação do Curso de Licenciatura em Pedagogia do Plano Nacional de Formação para Professores – PARFOR, da Universidade Estadual de Feira de Santana, envolvendo uma reconfiguração curricular com a finalidade de reestruturar o tempo formativo noturno no Curso em destaque. Incialmente, a intenção era pensar em uma alternativa que possibilitasse suprimir o tempo de aulas do turno noturno mantendo a carga horária de aulas integralmente sem prejuízos na qualidade da formação dos professores-cursistas. 


A Universidade Estadual de Feira de Santana até então, apresentava um formato de temporalidade das aulas nos Cursos constitutivos do Plano Nacional de Formação para Professores diferenciado das demais IES do Estado da Bahia com aulas nos três turnos ao longo dos cinco dias da semana, além do sábado pela manhã, o que totalizava uma carga horária de 13 horas-aula ao dia, totalizando 70 horas-aula na semana. Refletindo, pois, sobre experiências em outras instituições da Bahia e do Brasil, os integrantes do Fórum das Licenciaturas e o Comitê Gestor da UEFS constataram que a carga horária noturna torna-se improdutiva, por não garantir a maturação dos conhecimentos pelos professores-cursistas e comprometer a qualidade da formação pelo esforço físico e intelectual que esses profissionais precisam dispensar durante um dia inteiro de aulas e o trajeto que fazem entre suas cidades de origem e a Universidade, a cada dia, durante toda a semana de aulas. Muitos professores necessitam viajar em média 50km até o Campus e, alguns, ao chegar em seus municípios, estendem esse percurso até suas residências, em povoados da zona rural. 


Refletindo sobre esta realidade e preocupados com a qualidade do percurso formativo desses professores, a equipe da Coordenação Geral do PARFOR/UEFS optou por repensar o modelo curricular adotado até então, na perspectiva de propor um novo formato para as semanas de aula, de modo que não houvesse prejuízo acadêmico tampouco teórico-metodológico para esses profissionais. Buscando articular a formação ao fazer cotidiano desses professores e do ambiente escolar em que atuam, optamos por elaborar uma proposta que possibilitasse a tradução da escola e da sala de aula em espaços vivos de pesquisa e produção de conhecimentos, de interlocução entre a teoria e a prática, de conexão entre os saberes produzidos na academia e aqueles demandados pela prática pedagógica diária. 


Pensamos, pois, em propor atividades que os professores-cursistas realizassem na própria escola em que trabalham ou em instituições educativo-formativas de natureza formal e não formal do município em que residem e/ou atuam como docentes. Inspiradas na teoria crítico-experiencial, através das ideias de pesquisadores como (JOSSO, 2004; MACEDO, 2010; NÓVOA, 1989; CATANI, 2003, 2006; BUENO, 1998) buscamos colocar a experiência formativa como centralidade desse trabalho, posto compreendermos que o professor-cursistas ao desenvolver em sua escola ou sala de aula, uma ação planejada por ele mesmo, em interação com seus colegas e os professores-formadores, em cada componente curricular estudado, no contexto da formação, teria a possiblidade de vivenciar uma experiência que agregaria à sua formação não apenas novos conhecimentos, mas permitiria reflexionar sobre sua própria prática e o processo formativo, exercitando, portanto, auto, hetero, eco, meta e transformação, posto que a experiência vivida trazer a possibilidade de direcionar a prática desse professor para uma mudança. 


Conforme (NÓVOA, 1997), adotar novas abordagens para a formação de professores, deslocando-se as práticas centradas nas dimensões acadêmicas (áreas, currículos, disciplinas, etc.) para uma perspectiva centrada no terreno profissional é imprescindível para se pensar a formação a partir de uma reflexão fundamental sobre a profissão docente. Assim, criamos os Observatórios Formativos que consistem no desenvolvimento de práticas de observação, pesquisa, participação e/ou produção nos distintos espaços educativos (formais/não-formais como: Creches, Escolas Comunitárias, Espaços Socioeducativos, ONGs, Sindicatos, entre outros ), nas diversas modalidades educacionais (Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação Indígena, Educação de Ribeirinhos e Quilombolas, entre outras) nos municípios de atuação ou no âmbito da UEFS, com o objetivo de promover articulação entre os saberes produzidos na Universidade, ao longo da formação e os saberes da prática, constituídos no locus de trabalho do professor. Além disso, as atividades dos Observatórios Formativos possibilitam aos professores-cursistas vivenciarem os princípios de formação preconizados pela Resolução Nº 2, de 1º de julho de 2015 que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial em Nível Superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada. 


Compreendemos que o redimensionamento da carga horária noturna, sob o formato de Observatórios Formativos, possibilita não só a inserção dos professores-cursistas em diversos espaços educativo-formativos, mas também o diálogo intercrítico entre os saberes acadêmicos e os saberes da experiência dos quais esses atores sociopedagógicos são portadores. Além disso, fomenta o movimento dialético entre sociedade-universidade-sociedade e Universidade – Escola Básica, enquanto espaços formativos.


Referências

  • BUENO, B. O. et al. (Org.). A vida e o ofício dos professores. São Paulo: Escrituras, 1998. 

  • CATANI, D. B. (Org.); VICENTINI, Paula Perin (Org.) . Formação e autoformação: saberes e práticas nas experiências dos professores. 1. ed. São Paulo: Escrituras, 2006. 270 p. 

  • CATANI, D. B.; BUENO, Belmira; SOUSA, Cynthia Pereira de. A vida e o ofício dos professores. 2. ed. São Paulo: Escrituras, 1998. v. 1. 169 p. 

  • CATANI, D. B. Formar educadores - desafio para todos os tempos. In: Raquel Lazzari Leite Barbosa. (Org.). Formação de educadores - desafios e perspectivas. São Paulo: Editora da UNESP, 2003, v., p. 11-21. 

  • FINGER, M. Apprendre une issue. Lausanne : L.E. P., 1989. JOSSO, M. C. Experiência de Vida e Formação. São Paulo: Cortez, 2004. 

  • MENESES, M. T. P. N. C. de. Formação experiencial e desenvolvimento de competências: Contributo de uma experiência de investigação-formação com base na análise da prática profissional em enfermagem. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências e Tecnologia. Universidade Nova de Lisboa. Lisboa, 1996. 186 p. 

  • NÓVOA, Antonio. FINGER, Matthias (Orgs.). O método (auto) biográfico e a formação. Cadernos de Formação nº 1. Março.Ministério da Saúde. Departamento de Recursos Humanos da Saúde. Centro de Formação e Aperfeiçoamento Profissional. Lisboa, 1988. 

  • NÓVOA, Antonio. Formação de professores e profissão docente. In: NÓVOA, Antonio (Org.) Os professores e sua formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote; 1997. p. 15-33. 

  • SOUZA, E. C. de. Pesquisa narrativa e escrita (auto) biográfica: interfaces metodológicas e formativas. In: SOUZA, E. C. de; ABRAHÃO, M. H. M. B. (Org.). Tempos, narrativas e ficções: a invenção de si. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006.

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